“Queremos modernizar este terminal para colocá-lo entre os melhores da África Austral”

 “Queremos modernizar este terminal para colocá-lo entre os melhores da África Austral”

A DP World Luanda faz um balanço positivo à frente da gestão do Terminal Multiusos do Porto de Luanda, vê com muito optimismo o crescimento do País assente nas reformas fiscais em curso, bem como os efeitos do preço do crude na economia nacional e mundial. Faz uma introspecção sobre o futuro: “colocar o terminal entre os melhores da África Austral”. Nas linhas que se seguem acompanhe a conversa com Paco Pinzon, CEO da DP World Luanda.

Qual é o balanço que a DP World faz do primeiro ano de gestão do Terminal Multiusos do Porto de Luanda?

O nosso balanço até ao momento é positivo. Estamos muito agradecidos pela oportunidade de desenvolver e operar este Terminal durante os próximos 20 anos e também vemos com muito optimismo o crescimento do País, em função das reformas fiscais que estão a ser implementadas nos últimos anos e os efeitos positivos que o preço do crude tem tido na economia angolana, assim como a redução dos preços dos bens de primeira necessidade.

O outro ponto do qual nos orgulhamos é a integração dos 725 colaboradores que recebemos aquando da assinatura da concessão, através de novos métodos de trabalho, da aprendizagem de novos sistemas e procedimentos operacionais, que um operador mundial como é a DP World tem de usar em todas os países onde está presente.

Que investimentos foram feitos no Terminal desde que a DP World assumiu a gestão da infra-estrutura?

Recebemos um terminal com algumas carências de equipamentos e de sistemas. Depois de o assumirmos apostamos de imediato na segurança dos nossos trabalhadores e na dos utilizadores do terminal, assim como na dos navios que atracam no terminal, porque a segurança para nós é mandatória.

Entretanto, investimos na aquisição de novos equipamentos, designadamente 30 tractores, seis empilhadoras para contentores cheios e quatro empilhadoras para contentores vazios. Recentemente, adquirimos uma das maiores gruas do mercado (Liebherr LHM800), que funciona assente num sistema híbrido de electricidade-combustível e que nos permite, no futuro, reduzir as emissões de carbono. Temos feito, também, formação aos nossos trabalhadores.

Enviámos alguns deles para países como Moçambique, Egipto e Dubai, porque temos lá operações consolidadas, e apostámos consideravelmente na melhoria das condições de trabalho de toda a nossa mão-de-obra. Implementámos ainda um novo sistema de operações no terminal que automatizou toda informação e que nos permite não termos pessoas no pátio a carregar e a descarregar contentores e expostas a acidentes.

Qual é a média de tempo?

Temos de considerar dois factores. Primeiro, temos a operação de descarga dos navios, na qual atingimos uma produtividade recorde de 50 contentores por hora. Depois, o tempo de entrega e recepção de contentores está em 45 minutos, mas vamos reduzi-lo em breve, através de um novo sistema de gestão de operações que estamos a finalizar.

Em termos comparativos, estamos com resultados interessantes, mas não falarei do passado, porque o que nos interessa realmente é a missão e os objectivos que temos para cumprir em termos de optimização, eficiência e facilitação do comércio para todas as partes envolvidas nesta operação.

Qual é o período estimado para rentabilizar o capital investido?

O tempo estimado de retorno do investimento depende de múltiplos factores, entre outras coisas depende em grande parte do tipo e volume de carga em causa e, essencialmente, da qualidade do serviço que prestamos.

Como encara a concorrência no mercado portuário nacional?

O Porto de Luanda é um porto muito competitivo. Temos aqui instalados quatro operadores, sendo que alguns movimentam carga diversa, mas todos movimentam carga contentorizada. Do nosso lado estamos particularmente focados na eficiência das nossas operações e na qualidade total do serviço prestado aos nossos clientes, assim como no contributo que queremos dar para o crescimento da economia nacional e para a modernização deste terminal, por forma a colocá-lo entre os melhores da África Austral.

Qual é o impacto da operação DP World na economia nacional?

A nossa presença em Angola tem um efeito positivo na eficiência e no fluxo dos serviços logísticos e de carga no Porto de Luanda. A DP World é uma companhia multinacional no sector de operação de portos e de terminais, zonas logísticas e económicas, serviços marítimos, e um provedor de tecnologia possibilita a implementação de soluções logísticas a nível mundial. Esta experiência permite-nos contribuir para a redução dos custos de importação e de exportação, e gerarmos maiores e melhores condições e oportunidades em toda a cadeia logística.

Quanto dos 190 milhões USD anunciados aquando da concessão do terminal, já foi investido?

Já investimos mais de 90% deste valor e nos próximos dias vamos iniciar as obras de construção civil. Finalizámos, entretanto, o desenho arquitectónico do terminal (Planta) e em breve vamos reabilitar a área de entrada, construir os edifícios administrativos para darmos melhor comodidade de trabalho aos colaboradores. Vamos também incrementar a capacidade de armazenamento e criar de raiz uma área especial para que os camiões possam estacionar comodamente, na qual teremos portões de acesso totalmente automáticos para que haja fluidez no trafego.

Pelo que vê no dia-a-dia da operação, sente que há necessidade de injecção de mais capital?

A verdade é que estamos sempre atentos a novas oportunidades de negócio e que estamos permanentemente em contacto com os nossos clientes. E se detectarmos uma oportunidade que agregue valor – sobretudo para os nossos clientes, analisaremos conveniente a situação e estaremos disponíveis para investir.

Qual é o nível de implementação do plano de investimentos na reabilitação da infra-estrutura física do cais do Terminal Multiusos de Luanda, para se alicerçar em gruas RTG e em linha com as melhores práticas internacionais?

Vamos dar início às obras de construção civil em breve, como já referi, e a maioria dos equipamentos em que investimos está associada à realização destas obras. Inclusive, toda a estrutura tecnológica que vai ser implementada está interligada com a infra-estructura civil. Significa isto que estamos em linha com os nossos objectivo.

A localização estratégica a nível regional, a meio da costa oeste do continente A localização do Porto de Luanda é muito importante para nós enquanto empresa, porque é o primeiro terminal no sul e oeste de África.

É um porto que está muito bem posicionado para poder servir países que fazem fronteira com Angola africano, foi crucial para concorrerem à gestão deste terminal?

A localização do Porto de Luanda é muito importante para nós enquanto empresa, porque é o primeiro terminal no sul e oeste de África. É um porto que está muito bem posicionado para poder servir países que fazem fronteira com Angola, como por exemplo a RDC. Actualmente, já manuseamos carga para Kinshasa e queremos transformar-nos num corredor para os países vizinhos.

Que tipo de carga é transportada para a RDC?

A carga que passa do nosso terminal para RDC é carga rolante, carga fraccionada e contentorizada, sendo essencialmente alimentos, medicamentos, roupas e moveis.

A COVID-19 influenciou as metas da empresa?

A pandemia teve um efeito global, impactou vários sectores industriais e a cadeia global de fornecimentos. E em Angola, quando começámos a operar – em Março de 2021, a COVID-19 imperava. Contudo, implementámos um plano para aprimorar as nossas medidas de segurança e protecção a favor dos nossos funcionários e clientes.

Fomos bem sucedidos e mantivemos o nosso terminal a funcionar 24/7, de modo que o manuseio de carga e o comércio não fossem interrompidos e continuassem a fluir no País e nos países vizinhos que usam o nosso terminal.

O fluxo de carga aumentou com a diminuição da COVID-19?

Estamos, felizmente, num patamar diferente e com melhores expectativas, quer aqui em Angola quer no resto do mundo. Neste momento a economia de Angola está em pleno crescimento, o preço do crude contribui para que o crescimento seja um pouco mais acelerado.

Por outro lado, o Kwanza está a apreciar-se em relação ao Dólar e a inflação está a reduzir, pelo que acreditamos que a economia angolana possa crescer quer neste quer no próximo ano.

Qual o volume de negócios em termos de carga hoje no terminal?

Nós operamos um terminal multiusos, o que significa que para além de movimentarmos contentores também movimentamos outro tipo de carga – veículos, cargas soltas a granel, cargas metalúrgicas e carga especial destinada à implementação de novos projectos.

Quantos postos de trabalho foram criados com a nova gestão?

Temos ao nosso serviço 743 trabalhadores. Começámos com 725 e orgulhamo-nos de trabalhar com 99% de força de trabalho nacional. Temos, naturalmente, um pequeno grupo de expatriados, que é necessário para implementarmos aqui o padrão de segurança e de operações à semelhança do que fazemos em todos os países em que operamos.

Estes profissionais serão substituídos de forma progressiva por quadros angolanos altamente especializados e formados por nós. O ano passado lançámos o plano de estágios, no qual seleccionámos os melhores talentos recém formados nas universidades nacionais.

Dez deles são agora estagiários na nossa organização e como todos os demais terão a oportunidade de se tornarem futuros líderes desta empresa.

Que outros projectos estão em carteira para que este terminal se possa equiparar aos mais de 80 terminais marítimos e terrestres sob vossa gestão em 78 países?

O Presidente da República, através do Ministério dos Transportes, tem um plano ambicioso e claro para o desenvolvimento da logística no País e nós queremos contribuir para a materialização deste plano. Portanto, estamos a analisar esta oportunidade de forma aberta e transparente, sendo que pretendemos aumentar a nossa presença no País.

Qual é o segredo para gestão de 80 terminais marítimos pelo mundo e qual deles contribui mais para o activo do grupo?

Não há nenhum segredo. O que sei é que o Chairman da nossa companhia é alguém com uma visão muito clara sobre o futuro da nossa empresa e que somos uma companhia muito focada no talento das pessoas.

Temos mais de 56 mil empregados em todo o mundo, de 137 nacionalidades distintas, e temos também um foco muito claro na inclusão das mulheres nos postos de trabalho. Paralelamente, o nosso modelo de negócio visa a integração de toda a cadeia logística e não apenas do que acontece nos terminais.

Por isso, a integração dos serviços é o nosso foco, para que os resultados finais sejam exactamente aqueles que servem as necessidades dos clientes.

Assim sendo qual é a quota de mercado que a DP Word pretende atingir em Angola?

Queremos ser líderes de mercado, até porque estamos a criar todas as condições para podermos oferecer um serviço de qualidade superior aos nossos clientes.

Quer indicar um horizonte temporal para tal?

O nosso foco é assegurar que este terminal seja moderno e uma referência de competitividade e de excelência logística para Angola e para os países vizinhos que contribuem para o crescimento económico de Angola.